Quando comecei o meu percurso na amamentação tinha muito poucas certezas, alguma informação, muita desinformação e demasiados mitos.
O caminho com o Miguel foi tranquilo, mas fui-me apercebendo, ao longo do tempo que, de facto, o incentivo ou o favorecimento da amamentação era reduzido. Além de saber que era o melhor para o meu bebé, tinha poucas ferramentas para poder dizer que decidia o que fosse. Tivemos sorte e os 6 meses de amamentação exclusiva chegaram (graças à possibilidade de estender a minha licença de maternidade, já que a atual não promove, de facto, a amamentação exclusiva, pelo período recomendado pela OMS, apesar de Portugal, na voz dos diferentes organismos como o Ministério da Saúde, a Sociedade Portuguesa de Pediatria, etc, apoiar essa mesma recomendação...)
Mas, quando tropecei no primeiro obstáculo que enfrentámos, por volta dos 10 meses, caímos. Não conseguimos dar a volta à greve de mama (nem sabia que isso existia!?) e acabámos por abandonar a amamentação. Para muita pena minha! E tive pena, porque não foi uma decisão minha. Foram as circunstâncias e a minha falta de conhecimento para fazer melhor, com alguns mitos enraízados que seriam "só" mais dois meses, que depois disso também já não é assim tão importante....
O tema da semana mundial de aleitamento materno, este ano, é "Empoderar Mães e Pais, Favorecer a Amamentação". E esse é, de facto, o segredo do sucesso da amamentação. Empoderar a Família significa dar-lhe informação e ferramentas para que possa escolher o seu percurso. Favorecer a amamentação é criar condições para que ela seja possível, caso seja essa e decisão daquela Família, informada, empoderada. Não é tomar as decisões pelas Famílias.
Para que isso seja mais do que uma frase bonita, são precisas medidas que vão além da semana mundial de aleitamento materno!
É preciso dar formação aos profissionais de saúde, para que estes estejam a par da informação atual em relação à amamentação (e isto inclui a identificação e apoio para ultrapassar dificuldades do dia a dia, que não acontecem apenas nos primeiros tempos). É acompanhar a tendência da sociedade em relação, por exemplo, ao surgimento das CAM, para que não se verifiquem abusos nem vazios legais.
É preciso criar condições para que TODAS as Famílias possam, de facto, escolher se querem ou não amamentar as suas crianças. Seja no que diz respeito aos primeiros seis meses em exclusivo, seja nos primeiros dois anos de vida, seja enquanto Mãe e Filho assim o entenderem.
Curiosamente, é a primeira recomendação da OMS que não é, de todo, favorecida pela duração da Licença Parental Inicial. A recomendação da OMS, em relação à amamentação exclusiva, é clara e é até aos 6 meses. Neste âmbito ainda temos um longo caminho a percorrer, uma vez que a recomendação não é compatível com uma licença de 4 ou 5 meses. Por muito que, para algumas pessoas, tenha sido possível, os testemunhos que me chegam fazem-me acreditar que os casos de sucesso são a exceção, e que revelam sempre um grande sacrifício da Mãe que quer continuar a amamentar em exclusivo, enquanto tem que regressar ao trabalho. É fundamental pararem de acenar com a bandeira da igualdade de género para não aumentar (ou até, pasmem-se, diminuir!?) a licença de maternidade! Querem uma licença parental equilibrada, igual? Aumentem a licença do Pai. Mas não se esqueçam que as Famílias não são todas iguais e que o poder de decisão deve estar nas Famílias e não em legisladores sentados nas suas bonitas secretárias!
O verdadeiro empoderamento só acontece quando, conhecendo todas as suas opções, as pessoas ESCOLHEM o que faz mais sentido para si e para as suas Famílias.
Claro que não vou terminar este artigo sem vos falar na Iniciativa Legislativa do Cidadão, que pede o aumento da licença parental inicial para os 6 meses, pagos a 100%. Isso sim, seria verdadeiramente, uma medida para favorecer a amamentação, dando a TODAS as Famílias a hipótese de escolher o seu caminho, mostrando um compromisso claro com a recomendação da OMS! Já que essa medida ainda não foi aprovada no Parlamento, cabe-nos a nós, cidadãos, continuar a lutar para que a possamos levar a votação. Para isso preciso da ajuda de cada um de vocês, para assinarem a iniciativa e partilharem com os vossos contactos. Juntos, vamos fazer-nos ouvir!
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