A Dra. Graça Gonçalves é pediatra e neonatologista, consultora internacional de lactação recertificada (IBCLC), responsável pela primeira clínica em Portugal especializada em aleitamento materno, a Amamentos, e é uma das pessoas que faz parte da Comissão Representativa da nossa Iniciativa.
Certa de que muitos de vocês já a conhecerão, ela é uma defensora da importância da amamentação exclusiva até aos seis meses, e aqui estão os motivos que evoca.
Se concordarem que a melhor forma de permitir que sejam as Famílias a escolher se querem seguir estas recomendações, ou não, é com uma licença parental inicial, habitualmente gozada pela Mãe, de 180 dias, podem assinar a nossa Iniciativa de uma destas 3 opções.
Amamentação exclusiva até aos 6 meses,
por Dra. Graça Gonçalves
Existe muita investigação sobre a idade ótima para manter a amamentação exclusiva e com base nela, muitas das organizações de saúde modificaram, já desde há vários anos, as suas recomendações sobre o tema, passando a advogar os 6 meses. Mantêm atualizações frequentes baseadas na evidência.
Alguns exemplos:
• OMS
• UNICEF
• Academia Americana de Pediatria
• Academia Americana de Médicos de Família
• Saúde Nacional e Conselho de Investigação Médica Australiana
• Saúde do Canadá
• Direção-Geral de Saúde
• Sociedade Portuguesa de Pediatria
Porquê manter amamentação exclusiva até aos 6 meses?
1) Para crescer e aumentar de peso da forma mais adequada.Todos os leites maternos são específicos da espécie, apresentando características únicas desenvolvidas ao longo de milhares de anos, para providenciar a melhor nutrição possível. Somos os únicos mamíferos que confiamos a alimentação dos nossos filhos ao leite de outra espécie (ainda que com modificações).
2) Para o bebé receber maior proteção contra doenças.
Os nossos bebés nascem profundamente imaturos tanto sob o ponto de vista de desenvolvimento, como imunologicamente, ou seja nas defesas que possuem.
O leite materno contém mais de 50 fatores imunes que conferem imunidade ao bebé, bem como fatores de crescimento que ajudam ao normal desenvolvimento dos órgãos da criança, incluindo o cérebro que no primeiro ano de vida cresce tanto como nos quinze anos seguintes.
Também fornece "bactérias boas" e a sua respetiva nutrição, que protegem o intestino do bebé. A introdução precoce de outros alimentos vai diminuir a possibilidade do bebé receber todas estas defesas que lhe iriam permitir ter menos diarreias, otites, infeções respiratórias, infeções urinárias, síndroma da morte súbita do lactente, etc.
3) Porque é por volta dos 6 meses que a maior parte das crianças se encontra preparada fisiologicamente e com desenvolvimento adequado para comer outros alimentos.
O aparelho digestivo do bebé é imaturo até cerca dos 6 meses, não permitindo a digestão de alguns nutrientes. Apenas o leite materno é bem tolerado e digerido não causando incómodos ao bebé. Contém as proteínas, hidratos de carbono e gorduras adequados, e fornece ainda as enzimas que vão facilitar a digestão.
Também até cerca dos 6 meses o intestino delgado do bebé tem espaços abertos entre as células que o compõem, que permitem a entrada de proteínas estranhas e micróbios através delas, podendo ganhar acesso à corrente sanguínea e causar alergia ou infeção. O leite materno contém anticorpos que fazem uma camada protetora ao intestino impedindo esse acesso enquanto o intestino está "aberto".
Para a maior parte dos bebés saudáveis e nascidos de uma gravidez de termo, os 6 meses correspondem à fase em que conseguem sentar-se, ter interesse no que os outros comem, agarrar os alimentos e levá-los à boca, fazer movimentos de mastigação, perder os reflexos de defesa que os fazem expulsar os sólidos quando entram na boca e começar a desenvolver a motricidade fina das mãos, numa palavra a saber alimentar-se.
4) Porque vai ser mais fácil introduzir sólidos.
Porque o bebé está preparado, a introdução dos alimentos é mais fácil e o bebé participa nela ativamente evitando batalhas à mesa e angústias nas famílias.
5) Porque o bebé tem menos risco de obesidade.
Se for respeitado o ritmo do bebé e a sua necessidade ou não de comer, teremos menos crianças e futuros adultos obesos.
6) Porque o bebé vai ter mais proteção contra a anemia por falta de ferro.
Contrariamente ao que se acreditava, que a introdução de alimentos fortificados com ferro (como as papas de cereais) iria colmatar os possíveis deficits de ferro, sabe-se que o ferro do leite da mãe é melhor absorvido sem outros alimentos e o bebé não irá desenvolver anemia.
7) Porque quanto mais cedo se inicia a diversificação alimentar mais cedo também poderá haver cessação da amamentação.
Quanto mais alimentos, que não o leite da mãe o bebé comer, menos leite bebe e menos leite a mãe produz. Quando a mãe iniciar a sua atividade laboral, vai ter mais dificuldade em manter a amamentação, até porque a maior parte das empresas não sendo amigas da amamentação, não dispõem de locais para extração de leite. Muitas mulheres são forçadas a extrair numa casa de banho comum.
As mães que amamentam porque têm filhos mais saudáveis, têm menor absentismo laboral e estão mais tranquilas e satisfeitas a trabalhar podendo dar mais rendimento no trabalho.
8) Porque ajuda a espaçar as gravidezes.
Não é saudável para a mulher ter gravidezes com intervalos curtos.
9) Porque diminui a possibilidade de a mãe ter cancro da mama e do útero.
Quanto maior o número de meses de amamentação, menor a probabilidade de desenvolver cancro da mama e do útero e de sofrer de osteoporose após a menopausa.
10) Porque a amamentação ajuda a criar e manter a vinculação mãe-filho.
Numa sociedade que não favorece a permanência dos filhos junto dos pais, onde o paradigma é a necessidade de auferir os meios de subsistência e prover às necessidades materiais da criança, onde existem tantas famílias disfuncionais e continuam a verificar-se abandonos e maus tratos às crianças, o incentivo ao aleitamento materno pode através do vínculo único que fornece ser o garante de que as nossas crianças podem ser mais cuidadas, mais felizes e mais confiantes.
Comentários