A Enf. Ana Lúcia Torgal é especialista em saúde materna e obstétrica e consultora internacional de lactação recertificada (IBCLC). Foi uma das responsável pela certificação do ACES da região de Lisboa e Vale do Tejo como "Unidade de Saúde Amiga dos Bebés" pela UNICEF e é um dos membros da Comissão Representativa da nossa Iniciativa.
No seu dia-a-dia contacta com muitas Famílias que sentem as dificuldades inerentes a quem quer seguir a recomendação da OMS e amamentar os seus bebés em exclusivo até aos 6 meses, mas que não tem possibilidade de ficar com eles em casa até essa altura.
Fala-nos então, das dificuldades que essas Mães sentem, sendo que nem sempre conseguem cumprir a sua vontade de seguir a recomendação da OMS.
Se concordarem que a melhor forma de permitir que sejam as Famílias a escolher se querem seguir estas recomendações, ou não, é com uma licença parental inicial, habitualmente gozada pela Mãe, de 180 dias, podem assinar a nossa Iniciativa de uma destas 3 opções
Principais dificuldades das mães que amamentam, no regresso ao trabalho,
por Enfª Ana Lúcia Torgal
Em Portugal continua a ser difícil a conciliação da atividade laboral e a manutenção do aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses, tal como a evidência recomenda.
A relevância desta dificuldade no contexto nacional, advém, também, de Portugal apresentar uma das mais altas taxas de emprego feminino da Europa (65,6%), contra uma média Europeia (UE-27) de 62,1%. (EUROSTAT 2010)
Por outro lado, para as mulheres em Portugal, o reinício da atividade profissional, 120 dias ou 150 dias após o parto, vem agravar ainda mais a sua pesada “dupla carga”, pois, é-lhes tradicionalmente atribuída a responsabilidade das tarefas domésticas e do cuidar da família, nomeadamente das crianças.
As mulheres em Portugal têm direito a uma redução de duas horas do seu horário laboral, podendo trabalhar 6h por dia, durante todo o tempo que durar a amamentação. Contudo, e pensando na demora média de deslocações do e para o trabalho, elas estarão mais do que 6h afastadas das suas crianças, o que pode dificultar também a amamentação exclusiva até aos 6 meses.
Na preparação do regresso ao trabalho, e para que a amamentação exclusiva prossiga regularmente, é necessário fazer um stock de leite materno, para que o cuidador, na ausência da mãe, possa alimentar a criança.
Após o início da atividade profissional a mulher deve continuar a estimular a glândula mamária, num horário similar com o que aconteceria caso a mãe estivesse junto da criança. Isso significa que no trabalho a mulher deve extrair leite de 3/3h, idealmente num local com privacidade e onde consiga recolher e armazenar o leite em condições de higiene e segurança, para que este possa ser posteriormente oferecido à criança. Esta atividade pode demorar até 30 minutos, entre lavagem higiénica das mãos, estimulação da glândula mamária e extração do leite. Ora, em Portugal, para a concretização destes procedimentos coloca-se uma série de constrangimentos, como:
- Não existe legislação laboral que assegure às mulheres o tempo para extrair leite;
- Não existe legislação que regule a existência, nas empresas, de condições físicas para que se preceda à extração do leite nos moldes acima enunciados;
- Uma parte substantiva das famílias poderá não ter recursos financeiros para aquisição de um extrator de leite materno, recipientes próprios para a sua conservação e material para acondicionamento e transporte do leite materno.
Assim, muitas mulheres, por não conseguirem ultrapassar estas dificuldades acabam por desistir de amamentar exclusivamente até aos 6 meses, sendo introduzida a diversificação alimentar antes do tempo recomendado, com prejuízo para a saúde do bebé e em certa medida, para a delas próprias também.
Comentários