Testemunho #13 | Joana

Joana, entre a primeira e o segundo Filho, amamenta desde 2009



A nossa história não termina aqui...



Parece que foi ontem que tudo começou, na verdade nem sei bem dizer-vos quando tudo começou, mas partindo da lógica terá sido em 2008, ano em que engravidei da minha primeira filha. Tinha 27 anos, sabia que queria ser mãe e preparar-me de todas as formas para esse evento, se iria amamentar? Nem sabia. Em 2008 davam-se os primeiros passos nas Iniciativas pró amamentação, os recursos na internet ao serviço de todos, iam começando a surgir com alguma timidez, no que respeita a artigos científicos, benefícios e alguns factos sobre a amamentação. Logo, não foi uma das minhas primeiras preocupações, até porque o dia do positivo ficou marcado por uma intervenção cirúrgica de possível gravidez ectópica, que se viria a confirmar como sendo um quisto e a incerteza da continuidade da gravidez mantinha-se. Decorreram cerca de seis meses e meio aproximadamente em que me fui, muito lentamente consciencializando da chegada de um bebé, na prática a chegada da L. estava mais que garantida através da compra de todos aqueles adereços que fazem parte do enxoval de um bebé, sobretudo do primeiro, no meu sentimento mais íntimo demorou um pouco mais essa adaptação.
Iniciadas as aulas de preparação para o parto, apercebi-me que iria tentar, que era o melhor portanto iria conseguir. Informei-me sobre os pediatras que apoiavam a amamentação e escolhi a única, na altura, em 2009, na minha zona, que defendia já a amamentação em exclusivo até aos 6 meses de vida.

Assim, fizemos, a L. nasceu em janeiro num parto que não me deixa boas recordações, mas compensou o facto de às 38 semanas de gestação, ter sido presenteada com uma verdadeira, e como gosto de lhe chamar, “profissional” a mamar. Sem grandes problemas, a catraia lá começou a alimentar-se sozinha e gostou tanto que bem... o resto fica para mais tarde! Lidei de forma tranquila com a assoberbada subida do leite, as largas centenas de litros e litros que fui tirando, para alguma emergência, pensei eu, e para quando regressasse ao trabalho. O diagnóstico de refluxo gastroesofágico severo por volta de um mês de vida deu-nos ainda mais força para continuar, apesar de termos de lidar a cada mamada com vómitos, mudas de roupa, etc…

Por volta dos 4 meses a primeira prova de fogo surgiu com o insuficiente aumento ponderal, ou inexistente, pela primeira vez passou-me pela cabeça a necessidade de introduzir também leite artificial, a pediatra sempre me tranquilizou em como ela estava bem e a força dada pelo pai fez-me esperar e conseguir ultrapassar essa insegurança. Foi neste momento que nos cruzámos com a Patrícia Paiva do Mamar ao Peito e o seu reforço positivo foi determinante nesta aceitação. Regresso ao trabalho aos 5 meses. A pior de todas as etapas... a separação tornou-se menos penosa pela ida da L. para mamar a meio da manhã. Mamava depois na minha hora de almoço e assim que a mamã voltava para casa. Não, por aqui não houve leite materno por outras fontes porque simplesmente ela nunca aceitou oferecido por mim ou outra pessoa ou por outros veículos ( biberão, colher, copo, seringa, tentámos de tudo...).

Ultrapassámos os 6 meses de amamentação exclusiva porque ela rejeitou qualquer sólido (na altura não pratiquei BLW desde os seis meses) até por volta dos 8/9 meses. Íamos sempre oferecendo, a cada refeição, mas eram pequenos grãos de areia... Posso dizer que fizemos amamentação 99,9% exclusiva até esta altura. Começou a pouco e pouco a comer uma fruta, iogurte e bolacha, sopas, nunca... ainda hoje detesta! 😊

Os 12 meses chegaram, os dois anos, os três, nesta altura abdiquei da minha redução de horário de duas horas um pouco por pressão externa de quem ainda vê a amamentação prolongada (com prolongada refiro-me além dos 24 meses, porque como sabem a OMS recomenda a amamentação pelo menos até aos 2 anos do bebé). Fiquei desiludida comigo própria, porque desde que me tornei mãe sempre segui muito à risca os direitos da maternidade, não por mim, mas porque os direitos são deles sobretudo! Eles, os nossos bebés e crianças que chegaram ao mundo e são os mamíferos mais indefesos e dependentes. Jurei a mim mesma que num segundo filho não iria ceder a pressões, e se ainda amamentasse continuaria a dar ao meu filho esse direito, consagrado na Lei Portuguesa.

Foi também nessa altura, e devido a olhares e comentários de desaprovação junto de uma criança que ainda não conhece os preconceitos da sociedade: -  “tão grande e ainda mama?!??” ou “ que vergonha, daqui a pouco namora!” que fizemos um pacto só nosso, doravante, as maminhas seriam em casa, no carro, ou num local resguardado de olhares e frases inúteis. Tantas mães que ainda são alvo deste tipo de mensagens e que por imposição alheia acabam por desistir, como se de uma má ação se tratasse, algo punível eticamente.

A um mês de completar 5 anos, a L. tornou-se a mana mais velha! Na altura ainda mamava e uma das recordações mais poderosas que tenho deste percurso é cerca de 5 horas depois de ter parido o meu segundo filho, num parto relâmpago, a L. veio mamar juntamente com o irmão, na maternidade (um em cada mama, claro) e foi elogiada pelas enfermeiras deste Hospital certificado como Amigo dos bebés. Os nossos olhos brilharam de conforto, pela primeira vez em algum tempo não ouvimos palavras de desaprovação mas sim de incentivo, para ajudar a estimular a subida do leite e a drenar, quando houvesse necessidade disso.



O irmão, ao contrário, sempre foi mais difícil nestas lides, nasceu com cerca de mais 1 quilo que a irmã, não deveria ter fome… para agarrar na mama foi o filme! Na altura pensei: “como é possível, depois de 5 anos a amamentar, tenho de ensinar um bebé a pegar na mama?”

Com algum trabalho e dedicação lá se foram desbravando caminhos. “Brindado” também com refluxo (pelos visto é genético) até por volta dos 6 meses, menos severo felizmente que o da irmã, este bebé menos ágil que a irmã, conseguia aumentar o dobro e quase o triplo de peso, era um autêntico budinha, chegando por vezes a ser interpelada de que deveria fazer dieta de LM... meus caros, isso não existe!... Os meus filhos sempre mamaram em livre demanda, exceto quando comecei a trabalhar, mas assim que estávamos juntos, começava a livre demanda, ou seja, sempre que quisessem!

Chegámos aos seis meses ou quase de exclusivo, sim (provou uma frutinha em BLW uns dias antes dos 6 meses). Aqui não houve introdução pela sopa ou papa, foi fruta e legumes cozidos para as mãos, e que boa aventura foi esta... A experimentação de sabores através da textura foi determinante e tão enriquecedora que não a trocaríamos por nada. A maminha sempre presente. Passámos por momentos de desespero e cansaço, devido aos constantes acordares noturnos nestes 3 anos, mas NUNCA pensámos em desmamar, nem de noite e muito menos de dia. Como disse atrás, é um direito deles!

Pelo meio concretizámos o desejo de fazer o curso de CAM para podermos ajudar outras mães.

Hoje com quase três anos e meio, continua a mamar em livre demanda (sempre que está comigo), com algumas regras, lá está, mais pelo clima social de que quero protegê-lo.

Muitas pessoas me elogiam e perguntam como tenho conseguido.

Enumero os seguintes pontos que para mim são determinantes para quem quer amamentar até e para além dos dois anos:



   1) O mais importante: amamentação em livre demanda, sempre que estiverem com os vossos pequenos e eles pedirem. Aplica-se à noite também. Eu sei, custa, mas à noite as nossas hormonas estão mais despertas e ajuda a manter uma boa produção de leite. Para além disso, grande parte das crianças começa a fazer o auto desmame noturno entre os 3 e os 4 anos, alguns um pouco antes;

   2) Ter uma mente fechada a pressões sociais vindas de vários flancos família, amigos, médicos, etc..;

   3) Ter o apoio do vosso marido ou companheiro;

   4) Praticar desde o nascimento o co-sleeping (com as devidas precauções) ou dormirem no berço junto à cama dos pais. Facilita durante a noite o processo e normalmente mamam e voltam a adormecer rapidamente;

   5) Estarem ambos em sintonia, ou seja: o bebé ou criança pequena e a mãe quererem continuar;

   6) Muitas crianças desmamam com uma nova gravidez, pelo que ao pensarem em engravidar antes ou depois dos 24 meses do bebé, as mamãs deverão ter isso em conta para não serem apanhadas por desmames surpresa.


Os anos passaram... fica a saudade e a sensação de dever cumprido. A L. “profissional da amamentação” está uma menina linda nos seus plenos 8 anos. O V. está super elegante, afinal, não foi preciso fazer dieta, apenas vê-lo crescer e acompanhado de muita maminha. Mas... a nossa história não termina aqui...! 😉

Mamã Joana
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 #AmamentarEnquantoOsDoisQuiserem

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