Gravidez: Chegou a Hora!

À medida que as semanas iam passando tornava-se cada vez mais inevitável pensar na hora do parto. A ideia de que "ele vai ter que sair" (tão elequentemente dito pela minha prima, na altura com 3 anos, quando a minha Mãe lhe disse que tinha um bebé na barriga), ocupava muitos dos meus pensamentos e era o tema central das aulas práticas de preparação para o parto.

Eu queria um parto normal, mas o mais importante era que tudo corresse bem. O meu maior receio era não poder tomar a epidural (por causa das injeções que eu tomava, havia um grande risco de isso acontecer, uma vez que tinham que passar 24 horas entre a última injeção e a epidural).

Todas as noites, quando tomava a pica, a partir do momento que me saiu o rolhão mucoso, às 35 semanas, o meu pensamento era o mesmo: "Filho, aguenta mais 24 horas"!

E na noite de 17 de fevereiro não foi diferente. Tomei a injeção quase à meia-noite e fui dormir. Passadas duas horas, já no dia 18, acordei com uma sensação estranha. A ideia que eu tinha era que, quando rebentassem as águas, eu ia ficar bastante molhada. Mas a sensação que eu tinha era mais de uma torneira a pingar. Levantei-me e fui à casa de banho. Eu não via nada de diferente, mas a sensação não desaparecia. Voltei para a cama, mas não consegui dormir.
Fui para a sala, liguei o computador, e estive a responder a uns e-mails de trabalho. Algo me dizia que, tão cedo não ia conseguir fazê-lo...
Quando amanheceu, e o despertador do Ricardo tocou, fui dizer-lhe para se arranjar, mas que não ia trabalhar, porque tinha que me levar ao hospital. Não posso dizer que tivesse dores, porque até ali não tinha. Era só um desconforto, que me fui apercebendo que seriam as contrações.

Lá fomos para o hospital. Chegámos lá por volta das 9h30. A médica que me viu disse-nos que era para ficarmos. Eu já estava com 4 cm de dilatação.

Nós já sabíamos que, no Hospital S. João, existe uma sala de preparação para o parto, para onde as Mamãs vão enquanto esperam que chegue a hora do parto (tínhamos ido fazer a visita ao bloco na semana anterior). E foi para lá que nós fomos. Eu estava bastante calma, apesar de saber que não ia poder tomar a epidural.
O tempo foi passando, de contração em contração. Eu ia fazendo a respiração que aprendi nas aulas. Parecia tudo muito controlado. Por volta das 12h tive a visita da enfermeira Célia, com quem fiz as aulas de preparação (eu tinha faltado a uma aula nessa manhã e ela foi ao sistema ver se eu já estava internada).

Até aqui as contrações eram uma brincadeira de crianças! Mas a dada altura começaram a ser bem mais intensas. Eu chamei a enfermeira de serviço e pedi-lhe qualquer coisa para as dores (a minha médica tinha dito que havia outra anestesia que me podiam dar). Mas acho que ninguém acreditou em mim, tirando, claro, o Ricardo, que esteve sempre ao meu lado... Eu lá fui tentando fazer a respiração durante as contrações, mas as danadinhas eram cada vez mais fortes e mais frequentes. Voltámos a chamar as enfermeiras. Vieram fazer-me uma série de perguntas sobre as injeções, às quais eu já tinha respondido, mas continuavam sem me dar nada para as dores. "Os anestesistas estão a estudar o seu caso" era só o que me diziam. Claro que não pude deixar de pensar que tinham tido TODA a manhã para analisar o meu caso! Qual era a grande surpresa?! Desde as 9h30 que sabiam que estava ali alguém que não podia tomar a epidural, mas que queria tomar o que fosse possível... Faz lembrar a surpresa das autoridades competentes quando, no Verão, à medida que o calor aumenta, aumentam também os incêndios, principalmente nas zonas onde as matas não são limpas...
E a verdade é que a anestesia nunca mais chegava! Eu só ouvia à minha volta pessoas a tomar a epidural e a mim nem um ben-u-ronzinho me traziam! Digamos, apenas, que me descontrolei um "bocadinho"...
Entretanto chegou uma enfermeira para me levar para a sala de parto (finalmente ouviram-me - porque será?!). Veio com uma cadeira de rodas e pediu-me para me levantar e ir para a cadeira. Claramente ainda não tinham percebido a mensagem! Levaram-me com a cama e tudo...

Chegados à sala de partos há algumas coisas que não me lembro bem (efeito da tal anestesia que FINALMENTE chegou). Lembro-me de ouvir a anestesista a dizer que eu tinha estado muito sozinha até então, mas que agora ela já estava ali. Lembro-me de ter tido vontade de lhe atirar com alguma coisa à cabeça (será que ela achou, quando a chamei, que era para trocar ideias sobre o frio que se fazia sentir naquela altura do ano?!). Lembro-me de ouvir dizer para puxar. E depois lembro-me de me dizerem para não puxar! Aí assustei-me. O que se passava? Porquê que não podia puxar? Estava tudo bem com o meu bebé? A partir daí lembro-me de tudo! A frequência cardíaca do Miguel tinha baixado, então deram-me qualquer coisa para parar as contrações, para ele poder recuperar. Felizmente ele recuperou bem :-)
Mas ali estava eu, com poucas contrações para poder puxar, já sem dores (não sei como é a epidural, mas a que me deram só pecou por ter sido dada tão tarde) e com uma imensidão de gente à minha volta (o Ricardo, 2 médicos, 2 anestesistas e uma série de enfermeiras).
Os médicos decidiram usar a ventosa para ajudar e o meu anjinho nasceu às 15h04 :-)

Mal ele nasceu eu só queria ouvir o som maravilhoso do choro dele. E passado um bocadinho (que pareceu demorar uma eternidade) ele fez-me a vontade! Que som fantástico! Eu tinha acabado de pôr uma vida no Mundo! É uma sensação indescritível :-)
Quando o trouxeram para eu lhe dar um beijo achei-o o bebé mais lindo do Mundo! Ainda acho! E quando o puseram nos meus braços para o amamentar foi um momento mágico! Finalmente tinha o meu FILHO nos braços! Aquele anjinho era absolutamente dependente de mim e eu só queria estar a olhar para ele! E ainda quero!

Percebi então porquê que as Mamãs dizem que é o dia mais feliz das suas vidas! Aquele momento apagou qualquer mal estar, qualquer dor desse dia! Só conseguia pensar que tinha o meu bebé nos braços :-)

E durante todo este percurso foi fundamental ter o Ricardo ao meu lado! Saber que, por mais difícil que fosse para ele estar ali, ele manteve-se calmo, nunca saiu de perto de mim e esteve sempre a apoiar-me!
E é por isso que ele é o amor da minha vida, o homem que eu escolhi para ser o Pai do meu Filho :-)

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